sábado, 8 de março de 2008

MAIOR HACKER DA HISTORIA

© 1987 - Reimpresso da revista "Current Notes"
[© e nota do texto em inglês].

A questão vem à tona de tempos em tempos.
"Quem foi o maior hacker?".
Bem, há um monte de opiniões sobre isto. Alguns dizem que foi Steve Wozniak, do famoso Apple II.
Pode ser Andy Hertzfeld, do Sistema Operacional do Mac [Macintosh].
Richard Stallman, dizem outros, do MIT.
Entretanto, quando às vezes menciono quem eu penso que seja o maior dos hackers, cada um concorda (contanto que o conheçam), e não há mais argumentações.
Assim, deixem-me apresentá-lo a vocês, e ao seu maior hack. Devo avisá-los que será de estarrecer. A propósito, tudo que vou dizer a vocês pode ser verificado em sua biblioteca local [nos EUA - N.T.].
Não se preocupem – não vamos contar uma história de aterrissagem de UFO da Shirley MacLaine. Só de um engenheiro eletricista de primeira...

por Dave Small

COLORADO SPRINGS, COLORADO.

Colorado Springs fica no sul do Colorado, e cerca de 110 quilômetros ao sul de Denver. Naqueles dias era conhecida como o centro de várias corporações de pesquisas de discos ópticos e do NORAD, o Comando de Defesa de Mísseis sob a montanha Cheyenne. (Eu tenho um interesse pessoal em Colorado Springs; minha esposa Sandy cresceu lá).
Estes eventos tiveram lugar algum tempo atrás em Colorado Springs.
Um cientista tinha se mudado para a cidade e montado um laboratório em Hill Street, nas cercanias do sul. O laboratório tinha uma antena de cobre de pouco mais de sessenta metros esticada sobre ele, que se parecia com uma antena de radio amador. Ele se mudou e começou a trabalhar. E estranhas coisas elétricas começaram a acontecer perto do laboratório.
Pessoas caminhavam perto dele, e centelhas saltariam do chão para os seus pés, através das solas dos sapatos. Um garoto pegou uma chave de fenda, segurou-a perto de um hidrante, e arrancou dele uma centelha de quatro polegadas. Algumas vezes a grama à volta do laboratório brilharia com uma sinistra coroa azul, ou Fogo de Santelmo.
O que eles não sabiam era que aquilo era só o começo. O homem no laboratório estava meramente sintonizando o seu aparato. Ele estava se preparando para jogar-se em uma experiência que classifica-se entre as maiores e as mais espetaculares de todos os tempos.
Um efeito colateral de sua experiência foi estabelecer um recorde para um raio produzido pelo homem: cerca de 42 metros de comprimento.

O HOMEM

Seu nome era Nikola Tesla. Ele era um imigrante do que se tornou [e voltou a deixar de ser - N.T.] a Iugoslávia; existe um museu de suas obras em Belgrado. Ele é virtualmente desconhecido nos Estados Unidos, apesar de suas realizações. Não tenho certeza da razão disto. Alguns acham que foi uma conspiração, os mesmos que gostam das teorias sobre conspiração. Mas acho que foi mais porque Tesla, apesar de ser um brilhante inventor, era também um péssimo negociante; ele terminou na miséria. Negociantes que vão à falência desaparecem dos olhos do público; vemos isto na indústria dos computadores todo o tempo. Edson, que não chegava nem perto do inventor que Tesla era, mas que era um excelente homem de negócios, é bem lembrado, assim com a sua General Electric. Mesmo assim, deixem-me listar um pouco dos trabalhos de Tesla, assim vocês poderão compreender quão brilhante ele era.
Ele inventou o motor de C.A. e o transformador (pense em cada motor que existe em sua casa).
Ele inventou a eletricidade de 3 fases e popularizou a corrente alternada, o sistema de distribuição elétrica usado em todo o mundo.
Inventou a bobina de Tesla, que cria a alta voltagem que energiza o tubo de vídeo de seu computador.
Atribui-se a ele agora a invenção do rádio, também; a Suprema Corte derrubou a patente requerida por Marconi em 1943, em favor de Tesla.
Tesla, em resumo, inventou a maioria dos equipamentos que trazem a energia para a sua casa todo dia, de grande distância, e muito do que usa esta eletricidade em seu lar.
Suas invenções fizeram de George Westinghouse (Westinghouse Corp.) um homem rico.
Finalmente, a unidade de fluxo magnético no sistema métrico é o "Tesla".
Outras unidades incluem o "faraday" e o "henry", então você compreenderá isto como uma honra dada a bem poucos.
Então não estamos falando de um desconhecido aqui, e sim de um genuíno engenheiro eletricista.
Tesla, muito cedo em sua vida, envolveu-se com um monte de invenções. Ele interessou-se cada vez mais pela ressonância, com um tipo particular de ressonância elétrica. Tesla achou-a fascinante. Se você coloca um circuito elétrico em ressonância, coisas estranhas acontecem, de fato.
Tome, por exemplo, a bobina de Tesla. Este transformador elevador [de voltagem] lançará algumas centenas de volts em freqüências de rádio.
A voltagem irá sair do topo de sua bobina como uma descarga luminosa, ou de efeito "corona". Uma pequena [bobina] provoca uma faísca de seis polegadas; uma grande lançará faíscas à distâncias de alguns metros. Ainda mais, Tesla podia atrair as faíscas para seus dedos sem feri-los – a alta freqüência da eletricidade conserva-se na superfície da pele, e evita que a corrente provoque qualquer dano.
Tesla começou a pensar sobre ressonância em larga escala. Ele já tinha sido o pioneiro do sistema de distribuição de energia elétrica que usamos hoje em dia, e isto não é pensar pequeno; quando pensar em Tesla, pense grande.
Ele pensou:
‘vamos dizer que eu envie uma carga elétrica para o solo. O que acontecerá a ela?’
Bem, o solo é um excelente condutor de eletricidade.
Deixem-me gastar um momento nisso, para que compreendam, porque muitos acham que o solo não é muito condutor.
O chão é um maravilhoso escoadouro para a eletricidade. Este é o motivo para o pino "terra" em seus aparelhos; o terceiro pino (redondo) em cada tomada C.A. de sua casa é literalmente ligado direto para a terra [apenas nos EUA. No Brasil, um dos dois pinos também é ligado à terra - N.T.].
Tipicamente, o cabo de força de seu aparelho é aterrado desta maneira, e se alguma coisa entra em curto-circuito no aparelho e o cabo é energizado, a corrente flui para a terra, ao invés de ir para você. Há muito tempo que a terra vem sendo usada desta maneira, como um condutor.
Tesla gerou um poderoso pulso de eletricidade, e drenou-o para o chão. Devido ao solo ser condutor, ele não é bloqueado. Além disso, espalha-se como uma onda de rádio, viajando à velocidade da luz, 300.000 km por segundo. E mantém sua propagação, porque é uma onda poderosa; ela não enfraquece após uns poucos quilômetros. Ela passa através do núcleo de ferro da Terra quase sem problema. Afinal de contas, ferro fundido é um bom condutor. Quando a onda alcança o outro lado do planeta, ela é refletida de volta, exatamente como uma onda na água, quando alcança uma obstrução.
Devido a isto, ela faz uma viagem de volta; eventualmente, retorna para o ponto de partida. Hoje, esta idéia pode parecer extravagante. Mas não é ficção científica. Fizemos refletir ondas de radar na Lua nos anos 50, e mapeamos Vênus através de radar nos anos 70.
Aqueles planetas estão distantes milhões de quilômetros. A Terra tem apenas 4.800 km de diâmetro; enviar uma onda eletromagnética através dela é uma facilidade. Podemos sentir terremotos por todo lado através do planeta, pelas vibrações que eles provocam e viajam por toda essa distância. Assim, o que a princípio parece ser espantoso, na realidade não o é. Mas, como eu disse, isto é um exemplo típico de como Tesla pensava. E então ele teve uma de suas típicas idéias.
Ele pensou: quando a onda retorna para mim (cerca de um trigésimo de segundo após enviá-la), ela estará consideravelmente enfraquecida pelo percurso. Por que não enviar uma outra carga neste ponto, fortalecendo a onda? As duas se combinarão, irão em frente e serão refletidas juntas. E então ele a reforça várias vezes seguidas. A onda aumentará em potência.
É como empurrar um balanço de brinquedo. Você dá uma série de empurrões cada vez que ele volta, e aumenta a oscilação com esta série de pequenos empurrões.
Já tentou parar um balanço quando ele está no máximo?
Ele queria encontrar o limite superior para a ressonância, mas veio a ter uma surpresa.

O HACK
A BOBINA DE TESLA

Então Tesla mudou-se para Colorado Springs, onde um de seus geradores e sistemas elétricos tinha sido instalado, e montou o seu laboratório.
Por que Colorado Springs?
Bem, seu laboratório em Nova Iorque tinha queimado, e ele estava deprimido por isso. E um fato aconteceu. Um amigo em Colorado Springs, que dirigia a companhia de eletricidade, Leonard Curtis, ofereceu-lhe energia de graça.
Quem poderia resistir a isto?
Depois de montar seu laboratório, ele esteve sintonizando sua gigantesca bobina de Tesla naquele ano, tentando faze-la entrar em perfeita ressonância com a terra abaixo. E o povo da cidade percebeu aqueles estranhos efeitos; Tesla estava eletrificando o chão abaixo de seus pés no retorno da onda refletida. Eventualmente, ele conseguiu sintonizá-la, mantendo-a a uma baixa potência. Mas no espírito de um verdadeiro hacker, uma vez que ele tenha decidido, ele vai em frente, só para ver o que acontecerá.
Então, qual era o limite máximo da onda que ele estava formando, e que se refletia para frente e para trás no chão, planeta abaixo?
A antena de 60 metros acima dele estava ligada ao solo, e ele tinha toda a energia que queria diretamente do gerador da cidade. Tesla foi para fora para observar (usando solas de borracha de três polegadas como isolação), e seu assistente, Kolman Czito, ligou a Bobina.
As filas de capacitores a óleo zumbiram, e um ronco veio dos arcos elétricos grossos como um punho, que saltaram pelo espaço.
Dentro do laboratório o ruído era ensurdecedor. Mas Tesla estava do lado de fora, observando a antena. Qualquer oscilação elétrica que voltasse à área se acumularia na antena e saltaria como um relâmpago.
Acima da antena relampejava um raio de cerca de um metro e oitenta centímetros de comprimento. O raio se conservava em um arco estável, embora diferente de um raio comum. E aqui Tesla observava cuidadosamente, porque ele queria ver se a potência iria aumentar, se sua teoria de ondas funcionaria. Logo os relâmpagos tinham seis metros de comprimento, e em seguida, quinze metros. A oscilação estava se tornando cada vez mais poderosa. Vinte e quatro metros – agora trovões se seguiam a cada relâmpago. Trinta metros, trinta e seis metros; o raio subia pela antena acima. Trovões podiam agora ser ouvidos à volta de Tesla (eles foram ouvidos a cerca de 35 quilômetros de distância, na cidade de Cripple Creek).
A campina na qual Tesla estava de pé estava iluminada por uma descarga elétrica muito semelhante ao Fogo de Santelmo, lançando um brilho azul.
Sua teoria estava certa! Não parecia existir um limite para as oscilações; ele estava criando a mais poderosa oscilação elétrica jamais criada pelo homem. Naquele momento ele conseguiu o recorde, o qual ainda permanece, para raios artificiais.
Então tudo parou. As descargas de raios pararam, o trovão se foi. Ele correu para dentro, e descobriu que a companhia de eletricidade tinha desligado sua energia. Ele chamou-os, gritou com eles – eles estavam interrompendo a sua experiência! O capataz replicou que Tesla tinha sobrecarregado o gerador e feito ele pegar fogo, que seus rapazes estavam ocupados apagando o fogo da rede elétrica, e que o inferno esfriaria antes que Tesla tivesse qualquer energia grátis da companhia de força de Colorado Springs novamente!
Todas as luzes em Colorado Springs tinham se apagado.
E aquilo, leitores, é para mim o maior feito hack da história.
Eu tenho visto espantosos [feitos] hack. O SO [sistema operacional] Atari de 8 bits. O SO Mac. Computadores da companhia telefônica – bem, montes de computadores. Mas eu nunca vi ninguém fazer o maior raio do planeta e desligar a energia de uma cidade inteira, "só para ver o que aconteceria".
Por uns poucos momentos, lá em Colorado Springs, ele conseguiu uma coisa jamais feita antes.
Ele tinha usado o planeta inteiro como um condutor, e enviou um pulso através dele.
Naquele momento do verão de 1899, ele fez história. Está certo, em 1899 – que diabo, perto de um século atrás. Bem, você pode dizer para si mesmo, é uma bela história, e estou certo que George Lucas poderia fazer um danado de filme sobre ele, com efeitos especiais e tudo o mais. Mas isto não é relevante hoje.
Ou é?

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